Nada
mais há de enlouquece
Dor
Que
ter conhecido a Lua
Que
ter apanhado um foguete
Dessas
linhas regulares
Que
a NASA oferece aos milhares
Aos
passageiros de segunda classe
E,
apontado pra Lua,
Ter
pousado na Lua
Ter
visitado a Lua
Ter
vasculhado a Lua
Ter
versejada a Lua
Ter
conversada a Lua
E
selenamente escutado, sereno, as cantigas da Lua
E
incontinenti ter sido encantado com a dança da Lua
E
ter abraçado, e beijado e pisado, e pisado, e pisado na Lua
E
ter refeito o amor pela Lua
E
ali luar
Num
quarto cada vez mais crescente
Adentrado
uma a uma as crateras: Regnault, Barbier, Olivier
Entrado
em cada um de seus mares: Tranquillitatis, Humorum, Crisium
Maria
lunare nostra, e o lacus, e o sinus, o palus no todo oceanus
E
ter visto o lado escuro da Lua
E
ter visto o lado oculto da Lua
E
assim mesmo pisado, e pisado, e pisado na Lua
Fervor
derradeiro de vil visitante amador.
...
E
então,
Passagem
de volta na mão,
Retornar
à Terra
E
pra sempre subver a Lua
La
uivando febril
De
um quarto cada vez mais minguante
Subvê-lua
como astro, um desastre, um descarte
Um
decalque branco-apagado do negro-espesso do céu
Uma
esfera, se cheia, ou um sorriso, se meia
Ou
só nada, se nova, de prata ou de leite ou de luz
Um
astro soltiço, suspenso, inefável
Inescrutavelmente
enlouquece
Dor.
.